quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A “INFLAÇÃO” NO FUTSAL PORTUGUÊS

À semelhança do que sucede nas principais modalidades desportivas de maior nomeada em Portugal, também o FUTSAL está sendo literalmente invadido por atletas estrangeiros.

O profissionalismo está aí! E não venham dizer que muitas dessas equipas, com jogadores estrangeiros, continuam a ser “amadoras”. Só por graça … ou despudor!

Cabe aqui ressalvar que alguns desses atletas estrangeiros, contra os quais nada temos, contribuíram para o desenvolvimento da modalidade, especialmente aqueles que se revelaram de qualidade.

Cada vez mais a competição, a nível da 1ª Divisão em particular, se irá confinar a equipas profissionais, dado que outras, que ainda SOBREVIVEM, terão os dias contados.

Sabendo-se das dificuldades financeiras de muitas dessas equipas, por mui ilustres que sejam os seus emblemas; sabendo-se que, por enquanto, as receitas geradas são mínimas ou mesmo nulas; sabendo-se que são precisas algumas dezenas de milhares de euros para suportar apenas as despesas básicas e de logística; sabendo-se que um só atleta estrangeiro, de categoria mediana apenas, comporta encargos globais médios anuais, no mínimo, entre 20.000 e 30.000 euros, quantas vezes ainda acrescidos de viagens, alojamento e alimentação; sabendo-se que os apoios oficiais são nulos (ou quase); sabendo-se que os patrocínios são de difícil obtenção…

COMO É POSSÍVEL MANTER E CONVIVER COM TAL SITUAÇÃO?

A chamada “CAROLICE” que fez nascer e crescer o agora denominado FUTSAL, antes chamado futebol de salão e futebol de cinco, ainda subsiste aqui e ali. Mas cada vez menos, pois essa “carolice” não dispõe de meios para aguentar a concorrência e é, por princípio, antagónica do profissionalismo, embora, num caso ou noutro, possa nele alinhar.

Então como desenvolver esta extraordinária modalidade em Portugal?

- Continuando a atrair cada vez mais atletas estrangeiros sem limite regulamentado? Em caso algum deveria ser permitido estarem em campo, em maioria, jogadores estrangeiros. Por vezes são todos estrangeiros!

- Continuando a deixar de dar oportunidades aos atletas nacionais, sobretudo os mais jovens que precisam de competir e ganhar confiança e experiência?

- Continuando a agravar os deficits dos clubes quaisquer que eles sejam?

- Continuando a não merecer os apoios oficiais que se justificam, sobretudo se se pretender manter em competição mais do que 5 ou 6 equipas, cujos prestigiados emblemas conseguem angariar patrocínios, para além de, no seu seio, disporem de infraestruturas (pavilhões, transporte, médicos, fisioterapeutas, etc, etc) que outros não têm?


Uma palavra para as transmissões televisivas, que, agora em canal aberto, são, sem dúvida, um forte contributo para o desenvolvimento e implantação do FUTSAL.

Mas não há bela sem senão… Veja-se que, por um lado, compreensivelmente face à necessidade de aumentar audiências, são, quase exclusivamente os jogos participados por Benfica e Sporting, a serem transmitidos, mesmo que, face ao disnevelamento de forças, tal não tivesse o mínimo interesse competitivo e desportivo. Aqui presta-se um mau serviço para a modalidade, tanto mais que, na mesma jornada, poderá haver jogos com muito maior interesse… desportivo e isso já aconteceu, por mais do que uma vez.

Por outro lado, a verba que os Clubes recebem dessas transmissões, caso tenham de pagar do seu bolso o aluguer do pavilhão, não chega sequer para esse encargo! Veja-se, como exemplo, o caso do Pavilhão Municipal do Casal Vistoso: recebe-se da FPF 2000 € e paga-se à C.M. Lisboa, 2005 € (taxas) + 150 € de aluguer das instalações, ou seja, em termos meramente financeiros, há um saldo negativo de 200 €!

Mas, apesar disso, o aspecto desportivo, de divulgação da modalidade e de incentivo aos Atletas, Técnicos e Apoiantes acaba por se sobrepor e justificar mais esse encargo.

Outro aspecto relacionado com as transmissões televisivas que importa abordar, diz respeito ao facto dos 35 jogos agendados pela SIC (fase regular, play-offs e Taça de Portugal) quase todos, senão mesmo a sua totalidade, incluirão Benfica e Sporting. Compreendemos a situação pelo que atrás referimos, face às necessidades de audiência. Contudo, a repartição das verbas deveria ser mais equitativa e distribuída igualmente por todos os clubes, porque, ao fim e ao cabo, todos contribuem e participam desses jogos. Sem a participação das 14 equipas que, com exclusão do Benfica e Sporting, integram o campeonato da 1ª Divisão, não haveria NADA.

Também nos parece pouco ético que a Sagres patrocine o campeonato nacional (FUTSAGRES) e simultaneamente patrocine o Benfica e o Sporting. Em termos meramente financeiros e no interesse do patrocinador comum, obviamente que uma final entre aquelas equipas será bem mais compensadora. E estas coisas pesam e caiem mal na opinião pública.

Pôr uma equipa a competir na 1ª Divisão Nacional, há 10/12 anos custava, no máximo, 300 contos /ano (1.500 €). Hoje custa, em média, 30 VEZES MAIS, se for amadora verdadeira. Se for profissional, será, pelo menos, 100 VEZES MAIS.

É, de facto, uma inflação galopante, bem pior do que a da economia portuguesa.

Que medidas poderão ser tomadas para controlar essa situação que, ano após ano, tenderá a agravar-se?

Responda e actue quem o deve fazer e a tal está obrigado.

Se tal não suceder, em breve, o FUTSAL português será cada vez mais estrangeiro e circunscrito às elites clubistas ou aos grupos económicos … se o negócio interessar!

E a Selecção Nacional, caso não sucedam novas naturalizações de estrangeiros, tenderá a baixar o seu nível, pois os Atletas portugueses têm poucas oportunidades.

Pessoalmente, acompanho esta modalidade há mais de 20 anos. Desde os épicos e inesquecíveis tempos do Ramiro José e agora, de há 10 anos a esta data, neste extraordinário Grupo do Sport Lisboa e Olivais, que tenho podido observar a evolução do FUTSAL, que é já a 2ª modalidade desportiva deste País, atrás do futebol de 11.

Permitam-me, por isso, dar a conhecer aquilo que penso e sinto acerca desta aliciante modalidade, sem pretender atingir outro objectivo que não seja apenas o de, modestamente, poder contribuir para a melhoria das condições de que merece disfrutar, sem saudosismos, nem excessos de “nacionalismo”.

A terminar, saúdo cordialmente todos quantos se dedicam de alma e coração a esta modalidade, com especial destaque para os ATLETAS AMADORES, que, após um dia de trabalho, vão treinar ao serão e jogar aos fins-de-semana, em claro prejuízo do merecido descanso a que todos têm direito, a troco do prazer do jogo e do gozo que dá (de vez em quando) ao David vencer o Golias.

Por quanto tempo mais?...

A. Serralha Ferreira

Fonte: http://slolivais.no.sapo.pt/

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